O que se mexe mais quando você respira: o peito ou a barriga?
Se é a barriga, ótimo! Quer dizer que você está respirando fundo, levando ar novo a todos os minúsculos alvéolos que formam o tecido dos seus pulmões e retirando deles o gás carbônico que precisa ser eliminado.
Mas se é o peito que se mexe, você está respirando só com a parte de cima dos pulmões. A parte de baixo fica lá, estagnada, cheia de ar velho e de resíduos, prontinha para adoecer.
Além disso, é lógico que só entra a metade do oxigênio que deveria entrar. Isso obriga você a respirar em dobro para compensar. E precisa de oxigênio pra quê? Ora, pra misturar com os carboidratos da comida, por exemplo, e fornecer combustível para as células.
Carboidrato sozinho não funciona, oxigênio também não. Mas com uma grande diferença: a falta de 5% de oxigênio no corpo dá enjôo e tontura, a falta de 10% pode fazer você desmaiar e a falta de 30% mata.
O faquir fica 100 dias sem comer, sem respirar ele não fica.
Respirar é ainda mais importante que comer. Tanto assim que a gente respira sem querer. Tente parar para ver como é difícil — viu? Pois é: tudo por causa daquela grande mágica da natureza que é o entra-e-sai. Inspira, entra; expira, sai; os dois movimentos têm a mesmíssima importância. Quando não se deixa sair uma coisa, a outra não pode entrar. Muitas das eliminações do corpo acontecem através da expiração, como por exemplo as toxinas das gorduras superaquecidas que a gente come (leia-se pastel do chinês) ou o cheirinho de alho: não sai nas fezes nem na urina nem na pele, sai no ar.
Agora, que também não é só ar, aí é que está. É energia vital — o prana dos hindus, o ki dos japoneses e chi dos chineses, algo que é tão óbvio para os orientais quanto misterioso no ocidente. A ciência sempre perguntou aos seus botões: Como é que o corpo se relaciona com a mente? Longe, muito longe, os sábios da antigüidade respondiam: Pelo prana, pelo ki.
Respira fundo!, dizemos a nós mesmos quando queremos coragem — e como a respiração galopa OU fica presa quando vem o medo! Pela respiração a gente conhece o sono de alguém — lenta e profunda, a pessoa esta calma; ofegante, sem ritmo algo incomoda .O que a gente faz quando quer passar despercebida? Prende a respiração. Quando aguarda uma resposta importante, também. E assim que a coisa se resolve a gente respira, aliviada. E quando morre de saudades, ou desanima? Suspira — deixa sair ali, expirando, uma coisa que parece estar presa no peito. E quando dá uma boa risada, não é um monte de ar que sai? Rá rá rá rá rá, olha só como a barriga encolhe na gargalhada — ou no choro, que chorar também é deixar sair, e quanto mais profundo o choro mais a gente expira (sabia que a composição química das lágrimas muda conforme a razão do choro?)
Há três aspectos básicos na respiração: ritmo, profundidade e duração.
A respiração lenta acalma, deixa a pessoa pacífica e compreensiva, produz clareza de pensamento. Ajuda a desenvolver uma percepção mais ampla de todos os fenômenos; aprofunda o autoconhecimento e a consciência universal. Diminui o rumo das atividades biológicas e a temperatura tende a baixar.
A respiração rápida excita, produzindo um estado mental instável. A pessoa muda de emoções bruscamente e tem reações inesperadas de ataque e defesa; torna-se mais subjetiva e egocêntrica, vê mais os detalhes que o todo, fica mesquinha.
A respiração profunda gera harmonia entre todas as funções do corpo, e com isso há mais satisfação, estabilidade emocional, confiança e capacidade de expressão. Facilita a meditação e o sentimento amoroso.
A respiração superficial gera carência, já que não supre as necessidades orgânicas de oxigênio, e isso se reflete no estado mental e emocional. A pessoa fica medrosa, volúvel, insegura, ruim de memória e de intuição. A angústia tem muito a ver com isso .
A respiração longa dá poder de concentração sintoniza a gente com o ritmo do universo; traz paciência, calma, tolerância, desenvolve uma visão profunda das coisas e a consciência do aqui-agora. A memória e a visão do futuro se tornam mais extensas e claras. A respiração curta é dispersiva, traz impaciência, cria um ritmo irregular; a gente muda muito de idéia, tende à intolerância e ao mau humor. Custa a se adaptar aos ambientes, vive sempre em conflito e se apega mais aos detalhes que ao todo.
Donde se conclui, sem muito esforço, que uma respiração longa, lenta e profunda pode criar dentro de cada um de nós um oásis particular de harmonia, paz e saúde. De graça, veja só. Utilizável em qualquer hora e em qualquer lugar, por qualquer pessoa, em qualquer situação.
Trecho do livro: Deixa Sair - Sônia Hirsch
O livro ainda dá mais dicas, sobre respiração (e de alimentação também!).
Recomendadíssimo!!!